Função Paterna e Construção deVínculos

Como esta semana teremos a comemoração do dia dos pais vamos começamos a semana de comemorações com um texto falando sobre a importância dos vínculos da figura paterna com seu pequeno, para ambas as partes. Mais uma vez contando com a colaboração da Psicóloga, Educadora, Especialista em Psico-pedagogia, Professora de  Cursos de Pós Graduação em Psico-pedagogia, mãe e avó: Maria de Fátima Lucas.

 

 

“Muito se tem falado e escrito acerca da importância da função paterna no desenvolvimento da criança, mas talvez pouco espaço tenha sido dado ao reflexo da presence-distante da figura do pai na família contemporânea. Para tratar desse tema, precisamos contextualizar essa família num tempo de excessos no qual a performance define o lugar social de cada um. Diante da exigência permanente da renovação, sem fim, de novos objetos de desejo, as pessoas tendem a assumir um performático estar no mundo, vivendo só o momento, voltadas para o gozo a curto prazo e a qualquer preço.

 

Nesse contexto está a família que precisa ter seus atores com a compreensão da importância dos papeis que desempenham, para que possamos ter garantias de formar sujeitos constituídos como tais, passando de fase pouco equilibrada, precária, defasada e imatura, para outra estável e equilibrada, reconciliados com o seu meio social.

 

O ser humano se forma a partir do encontro entre uma mãe e um pai; sendo ele um bebê, tem, inicialmente, essa mãe como primeira intérprete que lhe ensina tempo e espaço e como diferenciar a realidade externa da interna pelo processo natural da alimentação. Sem essa atenção especial das pessoas que exercem essas básicas funções materna e paterna, o ser humano, por sua dependência essencial nessa fase, não sobrevive e vai, a partir dela, pouco a pouco, inserindo-se na cultura e, por meio dele, humanizando-se e se constituindo como sujeito.

 

Pais não nascem pais, vão se tornando pais através e a partir dos filhos e filhas, transformando-se de genitores em pais. Num primeiro momento, o cenário é mais favorável à atuação da mãe na direção da construção de vínculos, mas é pela via do suporte à dupla mãe/bebê que o pai vai ganhando espaço e, aos poucos, a função paterna vai ajudar a estabelecer a lei, o início de uma autoridade, da não satisfação imediata dos impulsos, ao mesmo tempo amparando, apoiando e impondo a lei, construindo vínculos significativos no dia a dia para que essas construções possam ser feitas.

 

O papel essencial que o pai desempenha na vida emocional da criança também influenciará todas as suas relações amorosas posteriores, assim como a sua ligação com outras pessoas. A presença com qualidade, associada ao diálogo e à troca afetiva e amorosa, fará grande diferença na formação de uma criança; com o passar do tempo, essa parentalidade vai assumindo outras referências, representação essa que, no processo de desenvolvimento da criança, do adolescente e do adulto, terá, por um lado, a sociedade, por meio dos aspectos jurídicos, históricos, sociais e culturais e por outro, os aspectos internos, conscientes e inconscientes. Ao se aproximar do pai e não encontrar espaço para compartilhar sua vida e seus sentimentos, seja porque este está lendo o jornal, tomando cerveja, ou quando está diante de seu celular ou outro eletrônico, aprende que seus sentimentos são menos importantes que a televisão, a bebida ou o eletrônico; para não se sentir rejeitado, acaba se fechando e desistindo de procurar o amor paterno.  É essa presença de qualidade que possibilita ao filho(a) manter uma profunda conexão com a figura masculina que ele vai formando para si. Por sua vez, a filha tenderá a valorizar o homem com quem poderá partilhar o dia a dia no futuro.

 

Assim, para seu desenvolvimento emocional e cognitivo, o bebê necessitará ter a experiência de interagir com cuidadores humanos consistentes, “vivos” e ativos na relação, preocupados com a construção de vínculos que tenha por base a verdade e a amorosidade, sendo a presença de má qualidade ou distante/ausente, em um tempo de excessos e de exigências performáticas, obstáculo a um crescimento saudável.”