Superproteção e aprisionamento entre Pais e Filhos

 

Já falei aqui sobre a minha preocupação em não ficar superprotegendo a minha pequena, mas sei que é inevitável e muitas vezes me pego fazendo tudo por ela… E foi pensando nisso que conversei com Maria de Fátima Lucas (Psicóloga, Educadora, Especialista em Psicopedagogia, Professora de  Cursos de Pós Graduação em Psicopedagogia, mãe e avó) e pedi para ela “falar” um pouco sobre o assunto e tentar nos orientar e nos alertar um pouco, sobre alguns erros recorrentes que vez ou outra nós cometemos, sempre com o pensamento de que “foi por amor”, mas este amor algumas vezes pode prejudicar o desenvolvimento dos nossos filhos e o nosso próprio amadurecimento como pais e mães. Mas vamos deixar “falar” quem entende do assunto, não é?!

 

 

“Superproteção e aprisionamento na relação Pais e Filhos

 

Já há algum tempo tem nos preocupado a frequência com que vemos  pais e mães às voltas com questões que se relacionam aos limites que precisam dar aos seus filhos e os comportamentos superprotetores que assumem como forma de compensar outras coisas que supõem faltar na sua relação com suas crianças e/ou adolescentes. Alguns chegam com inquietações próprias à condição de neófitos nessa experiência e, por conseguinte, um tanto inquietos com o que fazer em determinadas ocasiões em que seu filho ou filha demanda algo fora de seu acervo de conhecimentos e que os(as) deixa inseguros(as) sobre o que fazer; outros chegam com conflitos já instalados ou se instalando entre interditar ou não sua criança ou adolescente diante dos excessos anunciados, o que requer uma reflexão mais aprofundada, uma vez que o que isto revela pode não se referir somente à situação em si, mas a algo que está lá atrás, na sua relação com o modelo de autoridade que construiu e que, provavelmente, adota em outras situações de vida, não diretamente ligadas ao seu funcionamento como pai ou mãe.

 

Primeiramente, precisamos pensar no conceito de limite. O Dicionário Michaelis nos diz:  “Alcance máximo ou mais distante de um esforço; ponto máximo que qualquer coisa não pode ou não deve ultrapassar”. Portanto, esse conceito já aponta para a amplitude de sua importância em nossa vida, em relação a todos os aspectos (emocional, físico, cultural, econômico, social etc), ajudando a demarcar fronteiras que nos darão as referências de até onde poderemos ir, ao mesmo tempo em que favorecerão a construção de princípios relacionados ao respeito pelo outro e pelo seu espaço, o que também ajudará a nos constituir como sujeitos no mundo. E quando deveremos começar com esse trabalho junto aos nossos filhos e filhas? Desde sempre, do início, com bom senso e escutando o coração, para incluir o afeto e a compreensão das possibilidades e limites da criança para lidar com o desafio que se apresenta, mas, acima de tudo, fazendo a leitura do significado da demanda que apresenta para encontrar o encaminhamento melhor naquele momento. Outro aspecto a considerar quanto a isso, é a autoanálise que deveremos fazer em relação ao lugar de onde estamos atuando naquela situação, ou seja, o que trazemos de nossa subjetividade, de nossas carências, das necessidades relacionadas à nossa história e que, por não darmos a devida atenção, nos fazem repicar durante toda a vida comportamentos equivocados, inclusive com nossas crianças.

 

Alguns pais adotam um comportamento superprotetor diante de situações limítrofes, como forma de evitar ou de proteger a criança de decepções ou perigos, mas terminam por estimular uma atuação cheia de equívocos que podem levá-la a não amadurecer a partir de experiências bem pontuais, ficando aprisionadas num lugar de onde já poderiam ter saído e para as quais até já terão construído os recursos necessários. Deveremos ajudar nossos filhos e filhas a conviver naturalmente com os erros e frustrações para que possam compreender que poderão sempre iniciar um novo ciclo em suas experiências a partir deles, superando-os e resignificando a vivência após análise do que realmente ocorreu.

 

A proteção desejada e em nome da qual tais equívocos às vezes acontecem, deve ocorrer ao mesmo tempo em que os pais preparam seus filhos e filhas para o mundo, adotando uma escuta atenta diante deles(as), estimulando o diálogo sobre todos os temas que estão presentes em suas vidas e construindo os vínculos necessários para a relação se fortalecer cada vez mais.”

 

Espero que vocês reflitam sobre o texto, pois eu já o estou fazendo… Quem tiver dúvidas, sugestões, sobre este ou outro assunto pode me mandar por e-mail, pois espero que este seja apenas o primeiro de muitos outros textos que Fátima escreverá para nós. Afinal como eu sempre digo, nada melhor do que nos cercarmos de pessoas em quem confiamos e que entendem realmente do assunto para nos ajudar e orientar. E ela preenche estes requisitos para mim… Já tive algumas conversas com ela sobre a minha pequena e as minhas dúvidas e dificuldades como mãe e confesso que já ouvi o que não queria (kkkk), mas serviu como um alerta e eu consegui enxergar erros que cometia inconscientemente, venho me modificando e tenho a certeza de que estas mudanças só vieram para me fortificar e amadurecer o desenvolvimento da minha pequena, que está crescendo, quer eu queira ou não… Não dizem que junto com um bebê nasce também um pai e uma mãe?! Pois é, e estes crescem juntos.