O direito da criança… de ser criança!

 

Na Idade Média, as crianças eram vistas como adultos em miniatura. Era normal vestir-se e comportar-se como gente grande. Historicamente, com o tempo, a compreensão sobre a singularidade da infância permitiu que os pais assumissem a obrigação de cuidar e preservar os seus pequenos. E assim sendo, as crianças passaram a ser melhor compreendidas nos limites e possibilidades de cada fase do seu desenvolvimento.

 

Mas olhe ao seu redor, e logo, você poderá ter a sensação de que podemos estar retrocedendo… Ao que parece, nossas crianças estão novamente se tornando adultos em miniatura. O problema é que dessa vez, recebem um incentivo, quase consciente, dos pais. A dinâmica frenética do mundo moderno subtrai nosso tempo e as estratégias de marketing faz com que ajamos sem uma reflexão apurada sobre algumas das nossas decisões educativas. Temos pouco tempo para os filhos, mas por outro lado temos condição de “oferecer coisas” que podem falsear certa “identidade social” a eles. Vivemos no piloto automático, fazendo o que dá e nos consolando com frases do tipo: “o mundo mudou”, “Agora, é diferente”, “Não dá mais para educar nossos filhos como fizeram nossos pais”, “As crianças de hoje em dia não são mais bobas”, etc e tal.

Isso é bem verdade. Mas por outro lado, às vezes, nem nos damos conta de que, por trás dessas racionais argumentações, podemos estar sendo pouco cuidadosos com a educação dos nossos filhos. Afinal, damos tudo o que achamos que eles precisam: escolhemos brinquedos estimulantes, baixamos aplicativos educativos, contratamos uma TV por assinatura para que eles tenham acesso a uma programação mais seleta. Ainda os matriculamos no inglês, natação, balé, futsal, reforço escolar… Ufa!… E ao final de tudo, pensamos: O que lhes falta?

 

Falta tempo! Tempo pra ser apenas criança! A agenda dos nossos filhos é cheia! Quase igual à nossa! E é por aí que começamos a subtrair dos nossos filhos aquilo que já é curto: a infância! Seu filho não precisa começar a preparar-se para o mercado de trabalho aos 5 anos de idade. Tampouco, precisa viver exposto aos estímulos cognitivos superpotentes logo cedo, por que não é isso que o fará um gênio. A melhor forma de garantir um futuro de sucesso, é possibilitando, antes de qualquer coisa, que nossas crianças cresçam com saúde emocional. Permitir seu filho brincar, promover passeios em família e realizar atividades criativas fará com que, juntos, possam equilibrar reações eufóricas, elaborar frustrações, modelar comportamentos de atenção, persistência, e autoconfiança, refletir sobre questões éticas, etc.

 

É claro que isso torna a nossa tarefa mais difícil. Exige de nós dedicação para um investimento pessoal na história deles; tempo para promover nossas relações interpessoais e vínculos; segurança para impor os limites necessários e muita paciência para repetir tudo o que queremos que eles aprendam. Educação para os valores é tão importante quanto a Educação para o conhecimento. Por isso, é preciso ser prudente com as escolhas que fazemos para os nossos filhos. Isso não nos impede de oferecer atividades esportivas, cursos de idiomas ou de outra ordem. É uma questão de controle, avaliação e equilíbrio. Apenas precisamos permitir que as nossas crianças tenham o direito de não se tornarem adultas antes do tempo, assegurando também o direito à convivência familiar e ao lazer.

 

Compromisso é trabalho. Encher a agenda dos nossos filhos de atribuições é só um novo tipo de configuração de trabalho infantil. Coibir a infância do seu filho, pode gerar uma criança precoce e um adulto infantilizado. Invista na maior herança que pode deixar para seu filho: valores éticos, felicidade, lembranças saudáveis. Para isso, viva intensamente a infância do seu filho com ele. Daqui a alguns anos, até você vai sentir saudade dela!